sábado, 28 de junho de 2008

História

Reportagem produzida por Davilúcia Coelho, Midiã Santana e Renata Bonfim
Fotos:
Arquivo Pessoal Antonio Pithon ; Arquivo Pessoal Congregação Mariana; e biblioteca da Fundação Pedro Calmon.


Cine - teatro Excelsior
Um dos melhores cinemas de Salvador no início do século XX

Dia 17 de abril de 1935, noite no Centro de Salvador, as luzes se acendem, a multidão aguarda ansiosa pelo grande momento. As portas se abrem, o espetáculo começa. A cidade de Salvador, em pleno auge da década de 30, conquista um novo espaço cultural, o Cine Teatro Excelsior, inaugurado em grande estilo Avant-Premiére ( primeira mão), com o filme A Guerra das Valsas. As sessões começavam às quatorze horas e terminavam às vinte e duas, com intervalos de duas em duas horas.

O antigo Cine São Jerônimo, demolido em 1933, deixou de ser poeira, sendo restaurado e intitulado de Excelsior. Em sua nova arquitetura, as cortinas vermelhas que recobriam a tela davam-lhe um visual bonito e sofisticado. Igualando-se aos outros três melhores cinemas da época: O Guarani, Glória e Liceu.

Era um cine teatro luxuoso, em plena Praça da Sé, um dos lugares mais requisitados da época, o que incentivava as famílias a colocarem seus melhores vestidos e ternos, para assistir às matinês nas manhãs de domingo e nos horários comuns durante a semana. O Excelsior era amplo e, em algumas partes de suas dependências, havia uma bonita visão da Baía de Todos os Santos.

Foi fundado por um franciscano alemão em tempos de Guerra, chamado Frei Hildebrando Kruthaupse. Havia comentários preconceituosos a seu respeito por conta da sua nacionalidade, mas, ainda assim, o local era bem visto e distinto perante a sociedade.

Os tempos de auge do Excelsior foram as décadas de 30 a 50. Personalidades como o Cardeal Dom Lucas Moreira Neves, falecido há 5 anos, e Dom Geraldo Magela, atual Cardeal da Bahia, freqüentaram o Cine-Teatro, assim como o Monsenhor Gaspar Sadoc da Natividade, pároco da Igreja de Nossa Senhora da Vitória, que também era um freqüentador assíduo.

De acordo com seu Geraldo Barbosa, um velhinho simpático de 83 anos, membro da Congregação Mariana de São Luiz, órgão franciscano proprietário do Cine-Teatro e que acompanhou os anos de glória e decadência do lugar, a intenção do Frei Hildebrando em criar este cinema foi ter uma fonte de renda para ajudar as doações e as campanhas franciscanas, que fosse um ambiente familiar, onde os homens pudessem levar suas esposas e filhos.

O Cine não foi construído para exibições em palco, mas, quando foi inaugurada a Radio Excelsior, em Itapagipe, que pertencia a Dom Avelar, um dos sócios da Congregação na época, apresentou o grupo "Trio de Ouro", com Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas. Outro espetáculo também muito cobiçado foi o "Todo Tango", com a música Los Creadores, do músico, pianista e compositor Manuel Buzón, interpretando canções no mesmo espetáculo em que Elvino Vardaro executava, no violino, a música As fantasias Ballet.

Entre as décadas de 60 e 80, o Excelsior entra em declínio. A falta de verbas para a manutenção do cinema contribuiu para o afastamento dos cinéfilos. "Tinha meus 20 e poucos anos quando freqüentava o Cine entre os anos 70 e 80, gostava de ir ao Excelsior por causa de seu clima antigo, que dava um charme ao local, mas a falta de cuidado e o descaso com sua estrutura acabaram desfazendo todo o glamour que envolvia o cinema", relembra a aposentada, Joseide Santana, 55 anos, uma das cinéfilas que assistiram aos poucos um dos espaços culturais da cidade, o Excelsior, ficar apenas na lembrança.

O advento das televisões, do vídeo-cassete e o surgimento dos cinemas nos shoopings acabaram tornando o público mais exigente, fazendo a magia dos cinemas de bairro chegar ao fim. Não seria diferente com o Excelsior.

Outro motivo importante para a decadência foi o fato do Diretor, Livio Bruni, na década de 80, ter explorado comercialmente o Cine, exibindo filmes pornográficos, contrários à política da Congregação Mariana. O que resultou em uma "ação de rescisão contratual", da Congregação no Fórum Rui Barbosa, contra as distribuidoras de Filme Cinema Capri, e a empresa Orient Filmes, que saiu vitoriosa. Em 1985, uma matéria feita sobre o Excelsior no Jornal A Tarde expressou a indignação do distribuidor de filmes da Orient, na época, Aquiles Dantes Mônaco, que disse que entraria com uma ação contra Livio Brunie, e o Cine-Teatro, para ter uma compensação financeira na Justiça.

A reportagem entrou em contato com a Orient Filmes, empresa distribuidora dos filmes para o Cine Excelsior entre os anos 60 e 80 e de acordo com a atual Presidente, Norma Mônaco, não há nenhuma informação referente ao cine pois, segundo ela, na época, ele já estava em declínio e não tinha bom rendimento para a Orient.

Hoje, só o que resta do Excelsior é a sua antiga fachada, porém é onde os seus fiéis membros da Congregação se reúnem. E graças a eles, a lembrança do Cinema não se apaga, independente do seu não funcionamento. O Excelsior, assim como os outros cine-teatros, é um pedaço da história do cinema brasileiro da Praça da Sé e de todo o Centro Histórico da Bahia.

Fachadas do Cine ao longo das décadas:

Década de 60


Década de 80


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